domingo, 23 de novembro de 2008

OS ESTATUTOS DO HOMEM


ARTIGO I Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida, e que de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.
ARTIGO II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de Domingo. ARTIGO III Fica decretado que, a partir desse instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

ARTIGO IV Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. PARÁGRAFO ÚNICO O Homem confiará no Homem como um Menino confia em outro Menino. ARTIGO V Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será peciso usar a couraça do silêncio nem a armadura das palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa. ARTIGO VI Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
ARTIGO VII Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo. ARTIGO VIII Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

ARTIGO IX Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura. ARTIGO X Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco. ARTIGO XI Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã. ARTIGO XII Decreta-se que nada será obrigado nem proibido. Tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. PARÁGRAFO ÚNICO Só uma coisa fica proibida: amar sem amor. ARTIGO XIII Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou. ARTIGO FINAL Fica proibido o uso da palavra LIBERDADE, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a LIBERDADE será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, ou como a semente do trigo, e a sua morada será sempre o coração do homem.( Thiago de Melo )

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